JESUS DE NAZARÉ
terça-feira, 17 de maio de 2011
CARTA A DEUS
"Querido Deus,
Cá estou eu. Mais um dia. Nova carta.
Uma vez, quando era pequenina, decidi escrever-te um bilhete: coloquei um selo dado generosamente pelo meu avô no canto superior direito do envelope, e no destinatário lá figurava um "para: Deus" escrito em letra bem desenhada. Deixei-a a repousar num arbusto, ciente de que lá a irias buscar, de noite, quando eu não estivesse a ver. De manhã, a carta ainda lá estava. Fui vê-la, toquei nela e saltou para cima de mim uma aranha. Nunca me hei-de esquecer, pois fiquei triste contigo. Acho que até chorei de raiva. Eu, que rezava de manhã e de noite, que abençoava os alimentos que o meu pai trazia do supermercado, que evitava símbolos como o "yin-yang" ou a "estrela de David". Também nunca usava saias acima do joelho, e confessava-me com frequência.
Deixei-me disso. Sou hoje talvez menos pudica, menos receosa. Orgulho-me, no entanto, de ser uma apaixonada pela tua obra.
És com certeza um génio incomparável... Invejo-te até um bocadinho. Porém, revejo-me em tudo o que criaste. Amo tudo aquilo que criaste. Isso faz com que chore emocionada em todas as cartas que te escrevo. São cartas de gratidão, profunda gratidão, por me permitires estar aqui. Independentemente de tudo, de todos os meus lamentos, vontade de desistir, abandonar a corrida... eu amo muito estar aqui. Eu amo os rios, e a lua, e os girassóis e os sorrisos das pessoas. E eu sei que deixaste tudo nas nossas mãos. Nós, humanos desastrados, deixamos cair tudo. Inventarei um dia a cola que sarará todas as feridas. Para já, sei que nos forneces betadine, ou... como é que eles chamam mesmo? Ah, fé! Fé para continuar na corrida. Fé para saltar barreiras. Fé para estabelecer recordes. Obrigada. Quem me dera que o meu antibiótico soubesse a fé. É intragável, acredita. E já agora, dizem que divides o pão e o peixe em muitos bocadinhos. Divide os donuts que tenho na despensa. Eu sei que as minhas amigas gostam de donuts, mas não tenho suficientes para todas...
Para terminar, deixo-te um pedido. Ajuda-me. Não desistas de mim. Às vezes, em dias como hoje, é mesmo muito difícil continuar. Não sei porquê, mas as pessoas são desconfiadas e procuram maldade em todos os actos. Fogem de ti!! Não as deixes fugir. Sê um GPS porreiro e ajuda-nos. A todos.
Eu amo-te muito, Deus. Amo mesmo. E isto não pode ser ilusão, porque estou a chorar, e eu nunca choro por coisas que não existem. Só por unicórnios, mas eles existem.
Fica bem. Da sempre tua fiel seguidora,
MIA
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