AS SEMENTES DO SORRISO
"Estava Ele sozinho e sem nada para fazer na eternidade. Sorrindo, decidiu criar o tempo e a história. Havia um cosmos a planear, um mundo a fazer. No princípio, Deus criou os céus e a terra e encheu o planeta de vida vegetal e animal. Viu, com entusiasmo, que tudo era bom. Na manhã do sétimo dia, Deus, todo embevecido, contemplara deslumbrado o fruto de sete dias de trabalho. Tudo era bom, uma maravilha de amor e amizade, uma criação do próprio Deus, um Jardim belo e harmonioso. Ele divertia-se à séria, e soltava alegres gargalhadas de autêntica felicidade. Batia palmas de satisfação e boa-disposição porque tudo era bom e estava bem. Ele é bom.
Depois de criada a casa e o jardim, criou os seus habitantes. E tão especiais que os fez. Tudo para a sua obra-prima: o homem e a mulher, Adão e Eva, representando a humanidade criada à sua imagem e semelhança. E veio mais um sorriso ao rosto de Deus. Poderiam gozar de todas as maravilhas do Éden, ainda que não fosse conveniente comer de uma determinada árvore do jardim, pois era má. Tudo era harmonia, alegria e sorrisos puros e espontâneos. O proibido tem o poder da sedução e o fruto da árvore era atraente e a serpenteca ria-se do temor do simpático casal e induziu-o àquele especial manjar tentador. Deram-se conta, pela primeira vez que estavam nus e o seu riso ficou amarelo e, escondendo-se entre o arvoredo, sorriram comprometidos quando o Senhor chegou. Não assumiram a desobediência e a culpa morreu solteira, até hoje.
Quando Adão e Eva foram convidados a sair do Paraíso, não lhes apetecia rir e O Pai eterno estava triste. Mas, conseguiram levar consigo algo raro e precioso. O Pai Eterno não deu por nada ou fez de conta que não deu: não era a maçã. Esta só causou dissabores e autênticas dores de barriga existenciais. Entre a vergonha e o desespero, lembraram-se de roubar daquele jardim algo que servisse de eterna lembrança: o sorriso. Adão e Eva trouxeram o sorriso. Tiraram um bocadinho de sorriso do próprio rosto de Deus, que tinha em abundância para dar e vender e trouxeram-no sob a forma de sementes.
Adão e Eva quiseram que pedacinhos de sorriso ajudassem a contemplar as agruras da vida com mais serenidade e esperança, adoçando a maldade humana e motivando para a luta contra a discórdia e o sofrimento demoníaco. Através daquele furto perpetrado com a complacência divina, a terra não seria só espinhos e abrolhos e poderia ter algumas migalhas de Paraíso. Aquelas sementes divinas davam frutos maravilhosos de felicidade e harmonia. As sementes do sorriso eram belas e eficazes vitaminas de humanidade à luz do Projecto de Amor do Pai.
Mas, cedo se deram conta que era necessário tratar bem aquelas sementes de vida eterna, para que pudessem germinar e dar boas colheitas de realização e alegria em plenitude. Eram o sinal de que o bom Criador continuava a acreditar e a apostar na sua obra-prima: o Homem, criado à sua imagem e semelhança. Deus continua a amar a terra e os que nela colocou. O Criador foi enviando, ao longo do tempo, jardineiros a que chamavam profetas, para ajudar nas sementeiras do seu povo eleito. Lançava chuvas de bênçãos especiais para que nada faltasse às pessoas com quem fez uma aliança de Amor. Nas tempestades da vida, nos combates contra os inimigos humanos ou da natureza, Deus continuava do lado dos seus, apesar das infidelidades frequentes.
O sorriso, o riso, a alegria, o bom-humor eram sementes, que desde que não envenenadas pelas serpentes da maldade humana, recreariam o Éden. Eram a certeza de que tudo poderia ter sido diferente e de que nada está perdido, pois Deus sorri com misericórdia. E diz-nos que o paraíso é possível já aqui e agora, apesar das tentações e quedas do quotidiano. O Criador, cheio de entusiasmo e amor, chegou a enviar o seu próprio Filho para na plenitude dos tempos redimir e salvar, de uma vez por todas, a sementeira divina na natureza humana. Ele próprio encarnou e se fez homem igual a nós e espalhou as sementes da verdadeira felicidade e, como a autêntica Semente morreu para dar a vida nova.
E o Pai eterno continua a rir-se dos nossos disparates e sorri com ternura quando nos levantamos mais uma vez e nos esforçamos por sermos melhores e mais parecidos com Ele. Ele conta connosco para, com sorrisos de boa-disposição e amizade, rompamos as nuvens cinzentas e carrancudas dos rostos das pessoas que escondem a luz e o calor do Sol que nos envia e que é Ele mesmo. E Ele continua a lançar as sementes do seu sorriso!"
Paulo Costa